O
orfanato
De:
Flávio G. Vieira
Muitos
conhecem, aquela figura adorável, e que nos passa um ar angelical.
Mais a História que eu vou contar, nada tem haver com o que as
pessoas passam para a gente. Com o que agente realmente acha que é
certo. Nós estamos tão acostumados a saber de tudo, que nos
esquecemos que somos apenas homens. Para alguns o meu relato pode
parecer mentiroso ou até fantasioso, mais eu sei o que vi.
O
início de Tudo.
Eu
me chamo Paulo, sou restaurador de pinturas. Trabalho basicamente em
igrejas e museus. Eu nunca tinha trabalhado em uma escola para
freiras até então. Um dia estava em meu trabalho, restaurando uma
pintura de são Jorge em uma pequena igreja, em um bairro lazarilho
de minha cidade. Meu celular tocou, e como eu estava com as mãos
sujas, pedi que o meu colega, e ajudante Jonas o atendesse.
–Alô!
Eu escutei ele dizer, enquanto eu estava de costas trabalhando. –Ele
está restaurando uma pintura no momento. Ele falou olhando para mim,
no momento em que eu me virei curioso. –Ta bom! Eu vou perguntar a
ele. É uma mulher chamada Elaine, ela está perguntando se você
pode ir amanha em um orfanato restaurar algumas pinturas.
Pensei um
pouco, pois já tinha alguns compromissos, mais eram á noite.
–Diga a
ela que eu posso sim, mais pela manhã.
E assim
ele fez.
–Certo,
amanhã pela manhã ele vai ai. Me passe o endereço.
Continuei
trabalhando, enquanto o meu mais novo, ajudante, amigo e agora
secretário anotava o endereço. Algumas horas depois, eu terminei o
meu trabalho, e como faço todos os dias fui para casa, comi um pouco
e terminei o dia da forma mais divertida possível, para os que não
tem para onde ir. Assisti tele visão até pegar no sono. Durante o
meu sono mais profundo eu tive um sonho estranho, sonhei com o meu
trabalho do dia seguinte, não me lembro direito como foi, mais pelo
estado em que eu acordei, sei que não era bom, mais mesmo assim
voltei a dormir.
O
dia chegou, eu já tinha me acordado á algum tempo e já estava
pronto para ir. Peguei minha mochila com meus materiais e o endereço
do orfanato que meu ajudante havia me entregue. Saí de casa na minha
bicicleta, daquelas que agente usa pra fazer trilha, mais que no meu
caso era pra trabalhar. Não sei se eu escolhi o pior caminho ou se
ficava longe mesmo, mais eu passei por várias ruas, até chegar no
local. O lugar era grande como uma chácara. Era uma enorme casa de
andar, dentro de um terreno amplo, e muito bem arborizado. Toquei a
campainha e esperei. Uma senhora bem amadurecida (para não dizer
velha). Apareceu em uma das janelas do primeiro andar. Ela ficou lá
me olhando até que eu gritei: “Eu vim fazer o trabalho de
restauração senhora”. Ela nem se quer respondeu, apenas entrou
novamente dentro da casa, para alguns minutos depois vir abrir a
porta.
–Oi! Me
chamo Paulo. –Eu me manifestei, e nada ela respondeu.
Outra
Freira apareceu, vindo do jardim. Era uma senhora, não aparentava
ter mais de sessenta anos, estava com uma pazinha de jardineiro na
mão. Suas vestes eram padrão, como a de todas as outras freiras que
eu já vi, só que mais sujas de terra. Ela veio até mim, eu já
estava esperando ter dela a mesma recepção que tive da primeira.
–Olá!
Eu me chamo Elaine. Sou a madre superiora daqui. –Ela estendeu a
mão.
Segurei a
mão dela meio desconfiado.
–Essa
que abriu a porta para o senhor, e a irmã Ana. Ela não é de falar,
então não se sinta ofendido caso ela não responda a uma eventual
pergunta. Ah! Permita-me apresentar-lhe o orfanato.
Fiquei
meio sem reação, mais mesmo assim eu á segui.
–Acredito
que você não conheça o orfanato Santa Elena. Estou certa?
–Não
senhora, eu não conhecia. –Respondi.
–Esse
orfanato já tem mais de noventa anos de idade, já abrigou milhares
de crianças abandonadas. Então o senhor já deve imaginar que temos
muitas coisas para restaurar. –Ela se virou enquanto andava para
olhar para mim.
–Sim
senhora. – Eu repliquei animado.
Nós
andamos até atrás da casa, e entramos pela porta da cozinha, o que
me deixou um pouco desconfiado, mais logo que entrei pela enorme
cozinha, cheia de “panelões” ao fogo bravo do velho fogão a
lenha, eu vi o porque de nós entrarmos pelos fundos da casa. Em sua
sala estavam muitas crianças assistindo uma freira discursar. Eu não
consegui contar quantas, mais tinham pelo menos umas cinquenta ou
mais, entre meninos e meninas com pouca diferença de idade e tamanho
entre eles. Todos usavam uniformes iguais, diferenciados somente
pelos sexos. Os meninos usavam calças longas, pretas com uma camisa
branca marcada com o símbolo do orfanato, que de longe eu não
consegui destingir qual era. As meninas usavam praticamente a mesma
coisa, mudando somente a veste de baixo, que em vez de ser uma calça,
era um “vestidão” preto, com a mesma camisa branca marcada com o
símbolo do orfanato.
Subi as
longas e largas escadas de madeira. Não consegui identificar qual
era a madeira, mais era de um marrom bem escuro, e me pareciam muito
bem conservadas. Continuei subindo as escadas, até chegar lá em
cima. O andar de cima era muito luxuoso para um orfanato governado
por freiras. Era muito amplo, com um corredor extenso repleto de
portas que imaginei logo que seriam dos quartos das crianças. As
paredes estavam cheias de pinturas, e muitas delas realmente
necessitavam de reparos. Eram pinturas típicas de igrejas, com
imagens de santos, e outras divindades da igreja.
Parei um
pouco para contemplar as pinturas, mais logo minha atenção foi
interrompida por um barulho de passos no extenso corredor à frente.
Olhei para lá, e vi outra freira chegando até nós. Nunca vou
esquecer daquele dia. Ela estava vestida com as mesmas roupas das
outras, porém seu rosto estava desfigurado, enrugado e com a pele
muito fina. Seus olhos lacrimejavam devido à pele extremamente
esticada ao redor deles. Ela não tinha cabelo, parecia mais um
desses monstros que nós vemos em filmes.
–Permita-me
apresentá-los. Essa é a irmã Alice. –A irmã Elaine disse
enquanto à outra freira ainda estava chegando. –Ela sofreu um
acidente com fogo há alguns anos que queimou setenta por cento de
seu corpo. Nós cuidamos dela e hoje ela nos auxilia aqui no
orfanato.
–Prazer!
–Eu disse esticando minha mão.
–O
prazer é meu. –Ela respondeu apertando-a.
Sua voz
era estranha, parecia muito grave para ser a voz de uma mulher e
tinha um timbre que eu nunca tinha ouvido antes. Mais eu ignorei.
–Por
onde a senhora quer que eu comece? –Eu perguntei, dirigindo-me a
Madre Elaine.
–Pode
ser pelo quadro de São Jorge, ele está bem deteriorado. –Nós
olhamos para o quadro que estava logo a nossa frente.
–Certo!
Começarei por ele. –Respondi ao mesmo tempo que pegava meus
materiais.
–Vamos?
–Madre Elaine perguntou a freira Alice. –Vamos deixá-lo
trabalhar em paz.
As
duas começaram a andar e desceram pelas escadas. Eu comecei o meu
trabalho. Analisei bem, onde o quadro precisava de mais restauração.
Durante minha análise escutei um choro abafado de criança vindo de
um dos quartos. O som fez um pequeno eco no egrégio corredor até
chegar á mim. Pensei logo “Que porra e essa?”. Mais logo a razão
me fez pensar que deveria ser só uma criança brincando então eu
continuei meu trabalho e ignorei alquilo.
Comecei o
trabalho de restauração, pelas bordas do quadro que estavam bem
gastas. Alguns minutos depois, escutei o mesmo grito abafado, mais
dessa vez, algumas palavras saíram, alguma coisa parecida com
“Ajuda”. Dessa vez eu não pude ignorar. Comecei a andar
vagarosamente até o corredor, atento a algum som. No ultimo quarto
alguma coisa caiu fazendo um som de vidro quebrado no chão. Eu corri
até lá, entrei no quarto e comecei a vasculhar, sem sucesso. Eu
nada encontrei. Virei-me meio assustado, e para o meu terror total a
freira Alice estava atrás de mim.
–Você
não pode entrar aqui! –Aquela voz medonha me deu um calafrio.
–E... Eu
vi alguma... Eu ouvi alguma coisa vindo desse quarto.
Ela olhou
fundo nos meus olhos. Aquele rosto desfigurado me assustava demais.
–Impossível,
as crianças estão lá em baixo, não tem ninguém aqui.
–É.
Acho que foi só minha imaginação. –Eu comecei a me retirar sendo
observado pela freira.
Voltei
para onde eu estava e recomecei o trabalho. Eu estava um pouco
assustado, pois havia ouvido claramente gritos de criança. Mais
decidi ignorar e me concentrar no trabalho para sair dali o quanto
antes.
Fiquei lá
por horas trabalhando até notar que a luz do sol já havia
desaparecido. Já era noite. Virei-me ao ouvir um som de passos
subindo as escadas. Eram as crianças, elas estavam subindo para
dormir. Estranhamente nenhuma delas olhou para mim. Elas sequer
olhavam para frente, sempre olhavam para onde estavam pisando.
Pareciam robôs.
–O
senhor já está perto de terminar. –Uma voz disse, assustando-me.
–Madre
Elaine. Ainda falta muito, como à senhora sabe trabalhos de
restauração levam tempo.
–Sim! Eu
sei. –Ela olhou para o quadro que eu estava restaurando.
–Bom. Eu
volto amanhã para terminar o serviço.
–Porque
o senhor não dorme aqui? Nós temos um quarto de visitas no andar de
baixo. Assim o senhor pode terminar cedo amanhã, e não se arriscará
andar na rua há essa hora. Acompanhe-me. –Ela começou a andar.
–Não!
Madre Elaine, eu vou para casa...
–Não
seja rude. Eu estou lhe convidando para passar a noite aqui. –Ela
me interrompeu.
Apesar de
todos os meus instintos dizerem “Não” eu disse:
–Sim
senhora.
–Certo!
Me acompanhe. –Ela sorriu.
Nós
descemos as escadas, andamos pela ampla sala cheia de quadros
estranhos. O que me chamou mais a atenção foi que na parede lateral
da escada tinha um quadro de Giovanni Bragolin que ficava bem visível
para quem entrava pela porta da frente. Mais como não sou
supersticioso e não acredito nessas lendas eu não levei muito á
serio, muito pelo contrário achei até que combinava para um
orfanato.
Elaine e
eu, saímos da sala, e andamos mais um pouco por um pequeno corredor
cheio de janelas que davam vista total para a horta. Andamos mais até
chegarmos em uma curva que dava para outro corredor cheio de portas.
Pensei “Nossa! Que casa grande”.
–Esse é
seu quarto por essa noite. –Ela apontou para a terceira porta.
–Obrigado!
Mais e essas outras portas?
–Não se
preocupe, não há nada depois delas. –Ela respondeu prontamente.
–Ta bom!
–Eu disse.
Abri a
porta do quarto.
–Nossa!
Que quarto enorme.
–Gostamos
de deixar nossas visitas muito bem confortáveis. Aproveite a noite.
–Ela sorriu e começou a andar de volta.
Entrei
dentro do quarto, fechei a porta e fiquei olhando para ele. O quarto
era muito grande, uma cama pequena de solteiro fazia contraste com o
tamanho exagerado do quarto. Nas paredes não havia nada, além de
dois abajures pregados em duas paredes, um em cada, ficando de frente
ao outro, proporcionando uma luminosidade parda, mais ainda sim
confortável. Próximo à cama havia uma cômoda pequena com uma
bíblia em cima. Olhei para o piso que era de madeira, da mesma
coloração da madeira das escadas, e que deveriam ser da mesma
espécie. Tirei minha mochila das costas e a acomodei em um cantinho.
Deitei-me naquela cama. Nossa! Como foi bom finalmente me deitar,
parecia que eu não me deitava há dias. Fiquei lá olhando para o
teto até pegar no sono.
Durante o
sono eu tive um outro sonho estranho que me trouxe o mesmo pânico do
que tive antes de ir ao orfanato. No sonho, uma criança era
consumida por chamas, enquanto à outra era dilacerada viva por uma
freira usando uma faca. Eu só observava pasmo, até que a freira que
estava matando o garoto olhou para mim. Seus olhos eram negros, sem
pupila, somente pretos.
Eu
acordei suado, me sentei na cama e enxuguei o suor do meu rosto.
Depois de recomposto eu olhei para frente e vi o mesmo menino do
sonho, mais dessa vez ele estava no meu quarto, suas vísceras
estavam á mostra, saindo de seu abdome como uma cobra saindo de um
buraco. Ele estendia a mão para mim, como se quisesse ajuda. Eu
fiquei anestesiado, não acreditava naquilo que estava vendo. Ele
abriu a boca fazendo com que o sangue jorrasse dela. Um som estranho
foi emitido por ele, um som estalado que foi ficando cada vez mais
alto até virar um grito agudo de dor.
Eu
me afastei rastejando pela cama até cair no chão. A cama cobriu
minha visão, eu não podia ver o menino porque ela estava na minha
frente. Juntei minha coragem e fui levantando a cabeça aos poucos
para ver se o menino ainda estava lá. Mais não estava. Dessa vez eu
tive certeza do que vi. Levantei-me rápido, abri a porta do quarto e
sai pelo corredor correndo e gritando, na tentativa de acordar todos.
Mais nada aconteceu. Parei um pouco na sala e fiquei escutando o
mórbido silencio. Corri até as escadas e as subi. Fui até os
quartos das crianças, mais as portas estavam trancadas. Gritei, bati
com todas as minhas forças nas portas, até chegar a ultima, mais
nada aconteceu. Fiquei parado esperando que minha mente me desse uma
razão ou uma explicação obvia para aquilo.
Escutei
um som de passos na escada. Fiquei parado, pois o som era feito por
mais de dois pés. Fiquei esperando até que uma figura horripilante
de uma mulher apareceu. Ela estava de quatro, mais de uma forma
totalmente diferente. A parte posterior de seu tronco estava virada
para cima, suas pernas e braços a apoiavam no chão, mais tinham
sido extremamente contorcidos ao contrário, para isso. Sua cabeça
estava virada para baixo e para mim, me observando, mais ela também
estava contorcida de tal maneira que rugas em forma espiral se
formaram em seu pescoço.
Eu
fiquei impressionado e congelado de medo. A criatura, ou seja, lá
qual seu nome, gritou histericamente, seu grito era ensurdecedor. Ela
veio correndo de quatro e gritando até mim como um animal. Comecei a
forçar a porta para entrar, mais ela não abria. Olhei para a
criatura, ela estava a um metro de mim quando a porta se abriu.
Entrei dentro do quarto e fechei a porta o mais rápido que pude. A
criatura começou a bater na porta com uma força colossal. Meu
coração batia tão rápido que doía no peito. Andei para traz,
olhando a porta estremecer com a violência das batidas.
Lembrei-me
de que alguém tinha aberto a porta, mais quem? Olhei para traz e não
vi ninguém. Revirei o quarto a procura de alguém, mais nada
encontrei. As batidas pararam. Eu fiquei parado, escutando, sem fazer
um barulho sequer. Parecia-me que aquela coisa tinha ido embora.
Andei até a porta para ver pela fresta da fechadura. Abaixei-me
devagar e olhei. A fresta me dava uma visão muito limitada, eu
apenas via a porta da frente, mais já era suficiente.
Me
levantei um pouco mais calmo, quando senti uma presença. Virei-me
repentinamente. A criança que eu vi antes estava dentro do quarto,
erguendo a mão para mim, mais ela não estava só. No chão próximo
a velha cama com colchão de palha, havia um feto mutilado rastejando
a minha direção. Ele estava nu, seus olhos eram totalmente negros,
suas pernas haviam sido arrancadas e seu rastejar deixava um rastro
de sangue no chão. Ainda dava para ver parte de seu pequeno fêmur
direito para fora. Ele parecia em decomposição á julgar pelas
moscas ao seu redor. A criança gritou novamente chamando minha
atenção para ela. Eu não pensei duas vezes. Abri a porta do quarto
e saí em disparada pelo corredor. Ao me aproximar da escada, eu vi
novamente a mulher ou criatura de antes. Ela estava perto do quadro
que eu estava restaurando.
Ela
se virou e olhou diretamente para mim, com aquele mesmo olhar faminto
e vazio. Olhei para o corredor para ver se ainda dava para escapar,
mais a criança e o feto mutilado estavam andando vagarosamente pelo
corredor, como zumbis. Desci as escadas vertiginosamente. Corri até
a cozinha. Lá estava uma mulher virada de costas para mim. Ela
parecia cozinhar alguma coisa. O fogo estava aceso, com um daqueles
“Panelões”. Em cima. Ela trouxe uma colher grande á boca,
parecia experimentar algum tipo de comida.
Eu
me aproximei mais um pouco dela. “Olá!” –Eu disse. Ela parou.
De mexer a colher que estava dentro da panela. “Eu estou precisando
de ajuda”. –Expliquei. “É claro que está”. –Ela se virou.
Seu rosto... Bem ela não tinha rosto. Seu olho esquerdo estava para
fora, pendurado em seu nervo óptico, o outro olho foi totalmente
arrancado deixando no lugar somente um buraco de onde um líquido
purulento era expelido, e escorria por sua face dilacerada. Seu nariz
fora arrancado, somente dois buracos com parte de um osso exposto foi
deixado no lugar. Seus lábios inferiores também foram arrancados,
ficando seus dentes de baixo, amostra. Saliva escorria pela abertura
e pingava em seu uniforme de empregada, totalmente carbonizado.
Curiosamente, seus lábios superiores estavam intactos, e o que me
chamou a atenção foi que ainda tinham resquícios de batom vermelho
neles.
–Por
favor! Eu posso te ajudar. –Eu expliquei.
–Infelizes
sejam os impuros, que inundam o inferno, e que apodrecem nosso mundo.
–Ela pegou uma faca de cozinha que estava em cima da mesa a sua
frente. –Sua luxúria e ganância, são repugnantes. –Ela ria
histericamente ao mesmo tempo que proferia essas palavras. A
empregada desceu a faca até seu vestido queimado, o levantou com a
ponta da faca, segurou com sua outra mão e começou a cortar, como
se estivesse cortando um pão. Ela retirou toda a sua vagina usando a
faca. Comecei a vomitar ruidosamente. –Não é isso que você quer?
–Ela gargalhava enquanto erguia sua vagina arrancada.
Mesmo com
o estômago embrulhado eu saí da cozinha, corri até a porta da
frente. Comecei a bater e a chutá-la na tentativa de á arrombar,
mais a porta era de mogno, muito resistente. Escutei um barulho vindo
de traz de mim. Eram a criança, o feto, a empregada e a garota
contorcida. Eles estavam vindo até mim. Olhei para frente e vi uma
estatueta em cima de uma mesa cheia de flores encostada na parede a
minha frente. Corri depressa até lá e a peguei. Não tive tempo de
ver de que era a estatueta. Corri novamente até a porta, que tinha
duas janelas grandes de vidro. Usei a estatueta para quebrar uma das
janelas. Milhares de pedaços de vidro voaram pelos ares. Olhei para
traz, o garoto já estava muito próximo de mim. Não pensei duas
vezes, pulei pela janela quebrada.
O
garoto segurou atrás da minha camisa, quando eu já estava quase
fora. Ele foi seguido da empregada que também agarrou minha camisa.
Os dois gritavam e falavam línguas que eu não compreendia. Eles me
puxaram para traz, os vidros estilhaçados da janela fizeram um corte
profundo em meus braços, mais mesmo assim eu tive força. Apoiei a
sola de meu sapato na porta e empurrei para frente. Minha camisa se
rasgou, mais eu consegui me livrar daquelas mãos que me seguravam.
Os dois ficaram dentro da casa grunhindo como animais.
Virei-me
para a horta aliviado por ter saído da casa. Porém no terreno à
frente da casa estavam todas as crianças do orfanato, sentadas
formando um circulo em volta de uma grande fogueira. Forcei um pouco
a vista para ver o que estava dentro da fogueira. Sim! Era uma
menina. Ela estava despida, se debatia e gritava de dor, enquanto o
fogo consumia sua carne. Dei mais uma olhada. “É ela!”. Eu disse
a mim mesmo. A madre Elaine estava presidindo aquele ritual macabro,
seguida da Freira Alice, que para o meu espanto estava com o rosto
totalmente normal. Fiquei calado, porém boquiaberto. Comecei a dar
alguns passos para direita, lentamente para não ser notado. Mais der
repente todos viraram suas atenções para mim. A madre Elaine me
apontou o dedo, ela parecia furiosa. Virei-me para frente já
pensando em correr, quando recebi um golpe na cabeça e caí ao chão.
Acordei
com a vista enevoada e turva. Minha cabeça estava doendo muito, mais
logo escutei um som que chamou a minha atenção. Era um som de
sirene. Ergui meu corpo rápido e vi que estava deitado em uma maca,
rodeado de viaturas da polícia.
–Fique
calmo amigo, você está bem agora. –Disse um bombeiro.
–Onde eu
estou? –Eu perguntei.
Um
policial segurando uma prancheta se aproximou.
–Bom
amigo! Ao que me parece você dormiu aqui. –O policial respondeu.
–Não eu
não dormi. Eu fui chamado ontem para restaurar alguns quadros aqui.
O bombeiro
e o policial se olharam.
–Amigo!
Isso é impossível. Esse orfanato pegou fogo em novembro de 1997. Eu
atendi a ocorrência no dia. O Fogo começou de madrugada, no ultimo
quarto do corredor, no andar de cima. No quarto da freira... –Ele
coçou a cabeça. –Ah! Alice o nome dela. Ela morreu por asfixia
devido a fumaça e seu corpo foi parcialmente queimado. Todas as
crianças e freiras do orfanato morreram excerto a madre superiora
Elaine que na ocasião estava viajando...
–O que?
–Tentei me levantar, mais fui contido pelo bombeiro.
–Espere!
–O policial retrucou. –Eu ainda não terminei. Nós investigamos
e descobrimos indícios de que as freiras estavam usando as crianças
em rituais satânicos. Nós não descobrimos o motivo do incêndio,
mais estranhamente somente um quadro não foi queimado. O quadro de
Giovanni Bragolin.
–O
quadro da criança chorando que estava pregado na parede lateral da
escada?
–Esse
mesmo. Como sabe? –Ele indagou.
Coloquei
minha mão na cabeça e me deitei novamente na maca.
–Você
disse que foi chamado ontem para trabalhar não é?
–Sim!
–Respondi prontamente.
–Nós
recebemos uma ligação do seu ajudante. Deixe-me ver... –Ele
folheou a prancheta. Jonas! É esse o nome. Ele nos ligou ontem, e
nos disse que fazia 15 dias que você estava desaparecido.
–Quinze
dias? Isso não é possível. –Respondi, pasmo.
–Sim!
Quinze dias. Ele nos contou que você tinha recebido uma ligação e
veio até aqui. Nós viemos te procurar, e o encontramos deitado na
porta do orfanato.
Olhei para
o orfanato. Ele estava totalmente queimado, em ruínas. Bem diferente
de quando eu vim aqui. Todas as plantas ao redor foram queimadas. A
mata cobriu totalmente a horta. E todos os vidros estavam
estilhaçados.
–Meu
deus do céu. Eu tenho que ir à casa do Jonas.
Me
levantei da maca.
–Mais
você não está bem. Disse o bombeiro.
–Deixe-o
ir. Respondeu o policial.
Peguei
minha bicicleta que ainda estava onde a deixei e fui até a casa do
Jonas. Minha mente estava perturbada, eu não sabia o que tinha
acontecido. Na verdade eu não sabia de nada. Cheguei na casa do
Jonas, que não morava longe dali. Bati na porta com força.
–Já
vai! –A mãe dele respondeu.
Esperei um
pouco, ansioso. Ela abriu a porta.
–Paulo?
–Ela estava visivelmente espantada de me ver.
–Onde
está o Jonas? –Perguntei nervoso.
–Faz
quinze dias que você não dá notícias, ele ficou preocupado e
ligou pra polícia. Mais ele não aguentou esperar, ele quis ir até
o Orfanato atrás de você, porém quando ele ia, o telefone tocou...
–Uma
ligação? De quem? –Retruquei.
–Deixa
eu me lembrar... Ah! Elaine o nome dela. Ela o chamou para ir até o
orfanato.
–Meu
deus! Isso faz quanto tempo? –Segurei nos braços dela.
–...
Ontem.
Epílogo:
Coisas
como as que aconteceram comigo fazem agente pensar que nós não
somos nada, nós não sabemos de nada. Somos apenas poeira ao sabor
do vento. Mais mesmo assim, mesmo sabendo que sou só um homem. Eu
vou voltar lá.
FIM
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Mais caso queira comprar, e me dar essa força ta a qui o LINK
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