O
orfanato
Parte
2.
Prólogo:
Sabe
a quele medo mortal que corta a espinha? O sentimento de impotência,
que nós sentimos ao estar dentro da escuridão? Eu nunca imaginaria
que isso poderia acontecer comigo. Eu vivia minha vida como uma
pessoa normal. más agora eu não sou somente uma pessoa normal. Eu
tenho que descobrir o que está acontecendo.
Pena
que para isso, muitos, vão sofrer as consequências
Revelações
A
mãe do jonas ficou muito assustada com a reação que tive, depois
das revelações que ela me fez. Ela fechou a porta estrondosamente
na minha cara. Eu fiquei perplexo com tudo que ouvi, e não liguei
para o que a mãe do Jonas fez. Eu me virei, andei um pouco olhando
para frente sem piscar, como um zumbi, e me sentei nas escadas, de
cimento rachado da porta da casa do meu amigo. Passaram-se cerca de
vinte minutos. Eu não tinha reação alguma, apesar da minha mente
dizer que não aconteceu nada, que o Jonas estava bem. Algo dentro de
mim dizia que não, que nada estava bem.
Lembrei-me de uma
coisa: Todos os orfanatos, ou empresas, sejam lá, quais forem, tem
registros de quem é interno e de quem trabalha lá. Essa era a minha
única chance de descobrir o que aconteceu com Jonas, quem são as
pessoas que eu vi, e quem realmente é Elaine. Eu fiquei com muito
medo de voltar lá, más, já que o orfanato estava em ruínas, eu
não tinha com o que me preocupar. Me levantei, peguei minha
bicicleta e fui novamente até lá. Durante o caminho, fui pensando,
em tudo de ruim que fiz na minha vida. Fazia tempo que não pensava
nesse tipo de coisa.
Ao
chegar me espantei em ver que as viaturas não mais estavam lá, e
nem se quer seus rastros na areia. A rua estava deserta, muito
diferente de ontem. Sem crianças brincando, sem barulho algum.
Porém, eu não liguei muito pra isso. Eu tinha que entrar. Deixei
minha bicicleta do lado de fora, e fiquei olhando, analisando o que
poderia fazer, até que tive a brilhante ideia de pular o muro. Pulei
o muro, subindo pelo portão, de ferro. Suas aberturas, com
esculturas recurvas de metal davam um bom suporte, ao encaixe dos
meus pés.
Quando terminei de
subir, me desequilibrei e caí de costas do outro lado. Más, não
foi nada que pudesse me machucar muito. Me levantei, limpei a areia
em minha roupa e olhei para frente. O orfanato, realmente estava
destruído. Bem diferente daquele que eu estava trabalhando no dia
anterior, fiquei muito confuso com isso. Era inacreditável ver
tamanha mudança. Andei por entre a grama e o mato que estava da
altura dos meus joelhos. Subi três escadas antes de chegar a porta
da entrada. No momento em que olhei para aquela porta, me lembrei do
terror que tinha passado, engoli seco e a abri... Entrei dentro do
orfanato devagar, atento a tudo, porém o orfanato era somente um
monte de escombros e carvão, fechei a porta devagar e comecei a
andar na sua imensa sala.
Ganhei
mais confiança e andei mais rápido.
“Onde
ficariam esses registros?” –Eu
perguntei, pra mim mesmo. Passei, por toda a sala, subi novamente as
escadas. Minha nossa! Que arrepio aquele barulho de ranger da madeira
me deu. Más, eu continuei subindo, vendo o andar de cima se
aproximar, conforme avançava. Ao chegar no primeiro andar me deparei
com quase tudo queimado, reduzido a cinzas. Os quadros nas paredes
estavam totalmente destruídos. No piso haviam vários buracos, as
lindas janelas, que tanto chamaram minha atenção, estavam
totalmente quebradas.
Eu andei pelo
pequeno corredor ao lado da escada, até o quadro de são Jorge que
eu estava restaurando, e para meu espanto ele ainda estava com as
marcas de tinta que eu havia deixado na hora da restauração. Isso
provou para mim mesmo que eu estive ali.
Olhei para o lado
oposto do corredor e dos quartos das crianças. Tinha uma porta lá,
escondida. Ela era da cor da parede, parecia estar camuflada, más,
as marcas de carvão na parede e a tinta que foi parcialmente
consumida pelo fogo á denunciou. Fui ate lá, rodei a maçaneta que
fez um estalo e empurrei a porta devagar, ouvindo aquele som
tenebroso de portas velhas abrindo. Atrás da porta havia uma sala,
ela estava muito bem iluminada pela luz do sol que atravessava as
janelas, ainda intactas e os buracos feitos pelo tempo nas paredes. A
sala era grande, parecia um escritório, com vários livros molhados
que estavam arranjados em uma estante atrás de um birô grande de
madeira maciça, estranhamente conservado.
Eu
andei ate lá com cuidado, pois o chão não estava muito firme. Fui
para trás do Birô que tinha oito gavetas, quatro de cada lado, com
uma cadeira de madeira no meio dele. Eu vasculhei todas, as gavetas e
a única coisa que encontrei foi material religioso, bíblias,
miniaturas de santos, poeira Etc. Vasculhei toda a estante, joguei
todos os livros no chão, abri os que estava mais conservados, más
nada encontrei. “Acho que se esse registro existiu, ele foi
queimado. Não sei o que me deu pra eu vir aqui”. –
Pensei.
Já
estava me retirando quando a parede ao lado da porta por onde entrei,
chamou minha atenção. Havia um quadro pequeno, pregado na parede. O
quadro foi pintado de perfil, e era de um ancião, descalço,
trajando roupas, modestas, em pé de frente a um lago. Ele parecia
triste, olhando para baixo, em vez de contemplar a água verde a sua
frente. Em sua mão, esquerda, ele segurava uma bengala de cor preta
e na direita ele segurava alguma coisa, más o estado precário da
pintura não me possibilitava ver o que era.
Parei
de contemplar a pintura, e olhei para o quadro, como um todo. Andei
ate lá, e notei que alguma coisa estava afastando-o levemente da
parede. Cheguei mais perto dele e o retirei. Por trás do quadro,
havia um pequeno quadrado de madeira, com uma maçaneta pequena e
duas dobradiças, fincadas com pregos na ainda sólida parede. Eu
puxei a maçaneta e abri o que parecia ser uma espécie de cofre,
porém sem chaves ou cadeados. No seu interior haviam vários papeis,
dinheiro antigo e uma pasta de capa dura e cor preta. Peguei tudo que
tinha lá e levei ate o birô. Me sentei no que restava da cadeira e
comecei a vasculhar os papeis.
Vários
dos papeis continham endereços e números de telefones. Outros
tinham anotações estranhas em alemão. Más, um deles era em
português. O papel continha anotações sobre horários de
celebrações ao “Salvador”. Nomes das pessoas que iriam
participar. Em meio aos nomes estavam: Elaine e Alice. Junto com os
nomes de outras pessoas, que segundo o texto, iriam ser salvas e
purificadas pelas mãos do “Salvador”.
Ignorei
estes papeis e fui direto á pasta. Eu a abri, ela estava bastante
empoeirada, no entanto os papeis estavam em excelente estado. Lá
continham os nomes e fotos de todas as crianças que haviam ficado no
orfanato, cada um envolto em um plástico da própria pasta. Na parte
interna da capa havia uma espécie de informação adicional.
Dizendo: “Os, sobrenomes das crianças que não tem pais
conhecidos, foram dados pelas freiras do próprio orfanato”. Deixei
essa informação de lado, e fui ao que me interessava. Em uma rápida
olhada percebi que todos os registros eram organizados da mesma
forma. Uma foto, seguida das informações sobre a pessoa. Em outro
compartimento da pasta, que estava separado por um papel duro
colocado para dividir os registros. Haviam os contratos dos
funcionários com suas respectivas fotos e cargos. Era justamente o
que eu queria. Comecei pelas crianças, analisei minunciosamente as
fotos para ver se encontrava alguma que parecesse com o menino que
apareceu em meu quarto, ou com alguma outra coisa que vi. Não sei
quanto tempo eu passei procurando, contudo minha vista já estava
ficando cansada. Passei mais algumas páginas, ate encontrar um
menino bastante parecido com o que vi. A foto era em preto e branco e
me parecia ser bastante antiga. Ele nasceu em 1894. Era descendente
de italianos. Seu nome era Patrizio Auditore. O coitado não tinha
pais e foi encontrado quando era bebê na porta de um orfanato, na
Itália. O garoto foi adotado por Brasileiros e trazido para o
Brasil, porém seus pais adotivos morreram em um acidente e ele foi
acolhido pelo orfanato Sta Helena.
Na
foto, o menino aparentava ter uns dez ou treze anos e usava o
uniforme do orfanato. Ele era branco, cabelo liso, que escorria sobre
sua testa, olhos negros e um rosto de feições, bem ingênuas.
Fiquei observando a foto por um tempo, até não ter mais dúvidas.
Era ele mesmo. Estranhei que seu cadastro estivesse marcado com um
“X”. Em vermelho que traçava toda a frente da página e algumas
anotações em alemão atrás do papel do registro. Separei aquela
folha, colocando-a do lado da pasta, e continuei olhando. Durante
minha análise dos registros, eu senti um cheiro podre passando por
mim. Olhei para os lados, procurando de onde vinha o cheiro, más não
encontrei sua fonte. Eu desviei minha atenção disso e continuei
olhando os registros. Não precisei vasculhar muito até encontrar um
rosto familiar.
Era a foto da
menina contorcida que eu havia visto no corredor. Eu tinha certeza
que era ela, aquele rosto era inconfundível. Seu nome era Madeleine
Rodrigues. Ela havia nascido em Portugal, e também chegou no
orfanato em 1894, como o menino. E como o registro anterior, o seu
também estava marcado com um “X” em vermelho, porém não tinha
anotações, e as informações dela eram poucas se comparado com as
do outro registro. Na foto, ela devia ter uns vinte anos, cabelos
pretos e longos, olhos aparentemente claros. Ela estava sorrindo, na
foto, aparentava estar feliz. Separei essa folha, como fiz com a
outra.
Continuei olhando
os registros. Olhei atentamente, os rostos das crianças nas fotos,
elas pareciam estar muito felizes. Muitas das fotos estavam em preto
e branco, por que eram de muito tempo atrás. No entanto, haviam,
fotos coloridas. A ultima criança a entrar no orfanato se chamava
somente, Roberto. Era uma criança, de quatorze anos, ou mais, negro,
magro. Me chamou a atenção que na foto, ele não sorria, não
parecia estar feliz. Roberto, entrou no orfanato em janeiro de 1997,
más, foi adotado em Junho do mesmo ano. Igual a todas as crianças,
dos registros que separei. Todas elas, haviam sido adotadas segundo
os papeis, más, não havia mais nenhuma informação sobre isso.
Como nome das pessoas que adotaram, datas Etc. Esse fato era
estranho, más, deixei para lá. Passei mais algumas daquelas folhas
amareladas, e me deparei com algo estranho que despertou minha
curiosidade. Uma das fotos era de duas garotas gêmeas siamesas. Á
baixo da foto dizia que, elas trabalhavam em um circo com seus pais,
porém o circo foi fechado, elas foram abandonadas por eles, e
trazidas ainda muito jovens para o orfanato. Seus nomes, estavam
ilegíveis, devido a algumas machas escuras no papel. As gêmeas eram
ligadas pelo abdome. Tinham, cabelos claros, más, não pude
identificar a cor, devido á foto estar em preto e branco. Elas
usavam o mesmo uniforme dos outros garotos, porém adaptado a elas.
Eu
havia terminado de ver os registros das crianças, porém faltavam os
registros dos empregados. Comecei a passar as páginas, prestando
muita atenção em seu conteúdo. A primeira pessoa que aparecia nos
registros se chamava: Cláudia Aparecida Da Silva. Mulher de cabelos
longos e escuros. Na imagem em seu registro, ela não aparentava ter
mais de quarenta anos. Usava um habito típico, seu rosto era
misterioso e de aparência séria. Ela não sorriu na foto, era como
se não gostasse de estar ali. Dei mais uma lida, e encontrei uma
informação valiosa. No registro dizia que, Cláudia, foi a segunda
madre superiora do orfanato. Logo eu pensei: “Más, quem foi a
primeira?”. Virei a folha só por curiosidade, e atrás dela estava
mais um registro. O da primeira madre superiora. Ela se chamava:
Maria Benta de Souza, e assumiu a posição em 1893 quando o orfanato
foi fundado, porém morreu de tuberculose em 1903, exatamente dez
anos depois. Na imagem, ela aparecia sorrindo, seu cabelo, era
visivelmente branco e ela usava as mesmas vestes das outras Freiras.
A madre Maria, parecia uma dessas velhinhas que nós vemos nas
praças. Baixinha, de cabelos brancos e óculos redondos e grandes
para seu rosto. Ela deveria ter uns sessenta anos na foto. Maria
tinha uma aparência bem feminina mesmo sendo uma senhora. Olhos
claros, e um semblante feliz. O estranho e que o registro da primeira
madre, estava colado atrás do da segunda. Isso poderia indicar algum
elo, ou parentesco entre elas, más não era da minha conta. Separei
essa folha e continuei vasculhando até encontrar outro rosto
familiar. Parecia com o rosto da empregada que eu tinha visto na
cozinha. No entanto nessa foto, ela ainda tinha rosto. Seu nome era:
Aurélia Martinez de Andrade. Ela foi brutalmente assassinada, por um
dos meninos do orfanato, em 1995, na própria, cozinha do orfanato,
exatamente, dois anos antes dele pegar fogo. No registro não
continha, os detalhes do assassinato, somente, um trecho, dizendo
que, a sua garganta havia sido cortada, por um... O resto havia sido
apagado, com tinta de caneta. Coloquei esse registro junto com os
outros, e continuei procurando, passando folha por folha até
encontrar o Registro de Elaine, duas páginas, depois deste. O papel
estava úmido, o rosto da foto havia sido apagado, más as
informações, ainda estava bem conservadas. Elaine assumiu o
orfanato em 1943, logo depois da morte da segunda Madre superiora. A
Madre Cláudia, que morreu vítima, de complicações, ainda
desconhecidas.
Segundo o registro
dela, Elaine era órfã e foi encontrada vagando pelas ruas da
cidade, quando tinha, apenas dois anos. Ela foi levada para o
orfanato e lá cresceu. Depois da morte da Madre Cláudia, Elaine
assumiu o orfanato até o dia em que ele ardeu em chamas. Havia, uma
parte destacada, em vermelho, com um simbolo de cruz, carimbado no
papel, em cima de uma parte que dizia: “Elaine foi responsável por
trazer muitas crianças de rua para serem cuidadas no orfanato”.
Talvez isso seja, um destaque por ela ter acolhido tantas crianças.
Continuei, procurando, nos registros, porém, já tinha encontrado o
que queria. No entanto, eu não estava feliz, tão puco tranquilo,
pois os registros pareciam estar me esperando, eu mal procurei por
eles, e já os achei.
Peguei
as folhas que havia separado e levantei-me, pronto pra sair dali,
más, quando olhei pela janela do escritório, percebi que já era
noite. “O que?”. –Eu
gritei. Um barulho de estalar começou. O barulho, vinha do piso de
todo o orfanato. Olhei pela porta do escritório, e não pude
acreditar no que via. O orfanato estava se refazendo. A madeira do
piso estava rejuvenescendo e ficando exatamente como no dia anterior.
O barulho de estalar, era feito, pela madeira, enquanto ela
restaurava-se. As paredes, estavam, se transformando, substituindo,
as machas feitas, pelo fogo, por tinta e verniz.
Nós não
acreditamos no sobrenatural, até vermos com nossos próprios olhos,
e quando nossos olhos nos mostram o sobrenatural, nosso cérebro o
desmente. Más, meu cérebro acreditava no que eu estava vendo.
Fechei meus olhos, com medo... O barulho parou. Eu os abri devagar.
“Meu deus!” –Eu falei. O orfanato estava novo, exatamente como
antes. A madeira, estava novinha, os livros das prateleiras,
pareciam, ter sido comprados, naquele mesmo dia, janelas, quadros,
portas, enfim tudo, estava novo. Fiquei quieto, e reparei que o
lugar, estava silencioso. O que é uma coisa muito ruim. O medo que
sentia, me fez deixar as folhas caírem no chão. Eu estava
apavorado, más, não deixei o medo tomar conta de mim. Andei até a
porta do escritório devagar, olhando para todos os lados. Abri um
pouco a porta e fiquei lá observando, e vasculhando todo o local com
meus olhos.
Muitos passos, eu
pude ouvir, eles estavam subindo as escadas. Más, quem? Andei para
trás, me agachei, porém, deixei a porta aberta, para ver, quem
subia as escadas. As crianças estavam subindo para seus quartos.
Exatamente como da outra vez. Elas eram muitas e subiam as dezenas.
Fiz silêncio para que elas não me vissem. Todas elas subiram as
escadas e entraram nos quartos, rapidamente, como se estivessem
fugindo. Porém uma menina de uns cinco anos, usando roupas de
dormir, baixinha, loira e de olhos negros, olhou para trás, direto
para mim. “Meu deus! Será que ela me viu?” –Pensei. A menina
abriu a boca e ficou um tempo, com ela aberta. Fiquei um pouco,
confuso com a reação dela. Porém, ela passou somente alguns
segundos assim. Um grito, ensurdecedor, foi vociferado de sua
garganta, o grito parecia ter sido amplificado, correndo todo o
orfanato.
As outras crianças
saíram de seus quartos e vieram andando, devagar. Todas começaram a
gritar, más, nenhuma se aproximou. Olhei novamente para a escada.
Alguém estava vindo. Eu fiquei parado observando. Um padre subiu a,
passos largos, as enormes escadas, vestindo uma batina preta, com
alguma coisa roxa em volta do pescoço. Fiquei olhando até que ele
terminou de subir as escadas. Olhei mais atentamente, e percebi que a
cruz de Jesus cristo, pendurada em seu pescoço, estava de ponta
cabeça. Foquei meus olhos no rosto dele.
–É
o padre Bernhard? –Ele
era o
padre “Gringo” da igreja que eu estava restaurando, quando recebi
a ligação de Elaine.
–Padre!
Sou eu, Paulo. –O padre, abriu seus olhos, quando escutou, minha
voz.
Seus olhos eram
negros como os das crianças. Ele olhou direto para mim, com um
semblante de ódio, e permaneceu calado, até que, tentei fechar a
porta, com meu pé. Ao ver oque eu estava tentando fazer, ele gritou,
como um monstro e partiu em disparada até mim, sendo seguido pelos
meninos. Eu me levantei e fechei a porta, rápido. Dentro do
escritório, arrastei todos os móveis que pude arrastar, na
tentativa de travar a porta, que recebia golpes brutais, vindos de
fora. Após, conseguir travá-la, com um grande vaso que encontrei
próximo a estante de livros. Comecei a Procurar um lugar para me
esconder, por todo o escritório, já que sabia, que a porta não
aguentaria, muito tempo, e o vaso, era inútil para travá-la. Más,
não encontrei nada. O desespero tomou conta de mim; suor escorria
pelo meu rosto e minhas mãos ficaram geladas. Lembrei-me das portas
e cofres escondidos, nas paredes. “Pode ter mais alguma coisa”
–Falei a mim, mesmo. Comecei a tateá-las, até que encontrei uma
protuberância, na parede, procurei, mais um pouco, até encontrar,
um puxador redondo, de metal. Era uma porta. Ela estava ao lado do
birô, de frente para as janelas. “Deve ser um banheiro” –Disse
aliviado. Abri, entrei pela porta e a fechei. Não era um banheiro,
era uma sala pequena, parecia uma dispensa, com várias prateleiras
vazias.
Olhei para o lado e
notei que a sala, era muito vazia, porém, tinha um baú grande
encostado em uma parede. A minha curiosidade foi mais forte que eu.
Me aproximei do baú e o abri. Tomei um grande susto, que me fez
andar alguns senti metros, para trás cambaleante, como se estivesse
bêbado. Dentro do baú havia um corpo de uma menina, que parecia ter
oito anos. Seu corpo estava pútrido, vermes andavam por entre os
buracos, feitos por eles mesmos no corpo dela, que não estava
sozinha. Colado ao seu corpo estava metade de outro corpo, de uma
menina idêntica a ela. Eram gêmeas siamesas, ligadas pelo tronco.
As mesmas meninas, que outrora, eu vi nos registros. “Más como? Já
se passaram várias décadas, e elas ainda estão ai?”
Um cheiro pútrido,
invadiu minhas narinas como uma faca cortante fatiando a carne. Me
aproximei novamente, tampando minha respiração e fechei o baú. “Eu
não posso ficar aqui” –Pensei. Cheguei perto da porta da
dispensa e a abri um pouco, para ver o escritório. O escritório
estava tranquilo, as batidas na porta continuavam, más, sem tanta
violência. O baú atrás de mim rangeu, assustando-me. Olhei para
trás. As meninas que aparentemente estavam mortas, estavam em pé e
terminando de sair do baú. Os vermes em seus corpos caiam no chão
as dezenas, sangue escorria dos seus olhos cinzentos e pingavam no
chão gélido. Ela emitiu um som rasgado, agudo, e andou ate mim.
Em um instinto de
defesa, eu a empurrei para trás, com o meu pé. O impacto do meu
tênis no peito da garota, abriu um pequeno buraco, no centro do
tórax dela. A abertura permitiu que sangue, misturado com um liquido
amarelo escorresse da ferida, me deixando ainda mais enjoado. A quele
cheiro de morte era terrível. Abri a porta, sai da despensa e a
fechei. Continuei um tempo, pressionando a porta, com meu corpo e
tampando o meu nariz, para evitar aquele cheiro. As meninas começaram
a bater na porta, porém o estado de decomposição de seus músculos,
era muito avançado, e suas batidas somente faziam barulho, sem
grande impacto na madeira.
Notei que a porta
que dava entrada para o escritório, estava bastante danificada,
pelas batidas, más, não tinha mais ninguém batendo. Sai de onde
estava, me aproximei da entrada do escritório e olhei por um buraco
do tamanho de um punho, feito na madeira da porta. “Acho que está
tudo...” Antes de eu terminar de dizer. Um olho cinzento surgiu do
outro lado. Ele olhou direto para mim, me fazendo tomar, um grande
susto. Meu coração batia tão forte que chegava a doer. Minhas
pernas, ficaram bambas, me deixando cair sentado ao chão. E da mesma
forma que o olho surgiu na fresta, ele desapareceu. Em seguida,
começaram mais batidas contra a porta, porém, dessa vez eram, com
uma força muito superior as de antes.
Me levantei, andei
um pouco para trás, olhando para frente, até que a porta não
aguentou as fortes pancadas e desmoronou, por cima do vaso que
coloquei, fazendo um som estrondoso. Um ser estranho, com aspecto
humano, surgiu, quando a porta foi ao chão. Um garoto, de pele
cinzenta, cabeça raspada, magro e com ossos sobressalentes. Seu
rosto, com enormes feridas, parecia, paralisado, com um semblante de
tristeza. Ele aparentava ter uns vinte anos. Segurava em uma das
mãos, uma cabeça de um bebê humano, não deu para ver direito,
quem era, más, me parecia ser, o feto que eu houvera visto antes. O
garoto, olhou para mim, com um olhar faminto. Ele levantou sua mão,
e mordeu bem no meio do rosto da cabeça que ele segurava, arrancando
a pele do nariz, e da boca, e em seguida, mastigando-a.
Ele soltou a cabeça
do bebê ao chão, e começou a andar até mim, ainda mastigando.
Percebi que uma de suas pernas havia sofrido uma fratura exposta, e
conforme ele andava, sua Tíbia subia, rasgando ainda mais sua carne
podre e limitando seus movimentos. Esperei ele se aproximar mais, e
quando ele estava bem perto e ergueu suas mãos, eu corri, passando
por ele, e pela porta do escritório. Parei de correr quando cheguei
no meio da enorme sala, onde ficavam os quadros. Eu fiquei olhando
para os lados, tentando encontrar um lugar para me esconder. Um
barulho chamou minha atenção. Olhei para trás, e vi que as meninas
Gêmeas, conseguiram abrir a porta da despensa do escritório. Olhei
novamente para frente.
O corredor, onde
ficavam os quartos dos meninos estava muito escuro, me deixando com
um medo mortal de ir até lá. “Eu não posso descer pelas escadas,
eu não sei paraonde as crianças foram”. Decidi correr o risco.
Iniciei uma corrida desesperada, até o corredor. Enquanto estava
correndo, eu percebi, que os garotos estavam novamente subindo as
escadas, com passos rápidos. Aumentei, a velocidade da minha corrida
e entrei na escuridão. Continuei correndo, até que alguma coisa
agarrou minha perna, me fazendo cair. Eu não conseguia ver nada,
além do preto. Então fiquei escutando. O som dos passos das meninas
e dos garotos, que faziam a madeira ranger, vagarosamente. Fiquei
escutando... Um som seco de estalo surgiu, bem próximo de mim. Meu
coração, começou a bater ferozmente, em meu peito. Tentei me
acalmar, quando um grito horripilante foi emitido, bem acima de mim,
fazendo-me também gritar, más, de medo. As luzes do corredor
piscaram, e ficaram acesas por alguns segundos, revelando, quem
estava lá.
Era a garota
contorcida que eu tinha visto antes. Ela estava a cima de mim,
apoiando seus braços e pernas, contorcidos no chão, ao meu lado.
Seu pescoço quebrado, fazia sua cabeça balançar, como um pêndulo.
Ela estava coberta de enormes feridas e com o mesmo odor pútrido das
gêmeas, que eu havia visto. Comecei a rastejar pelo chão, na
tentativa de fugir. Más, ela andou mais um pouco e abriu sua boca,
fazendo sua saliva podre pingar em cima do meu peito. Rastejei, mais
rápido. Porém em um dos movimentos que fiz, ela mordeu meu braço.
Gritei de dor, e a
empurrei, com minha outra mão, fazendo com que ela se afastar de
mim. Levantei-me, do chão. A luz se apagou novamente, más, eu não
liguei para isso. Comecei a correr, com os braços esticados para
frente, até que choquei minhas mãos contra uma parede. Procurei
desesperadamente, uma maçaneta, ou alguma coisa que pudesse usar
como arma. A garota já estava chegando perto de mim, eu já até
podia ouvir seus passos rápidos, e sentir seu cheiro horroroso,
quando consegui abrir uma porta, entrar, e a fechar rápido. Fiquei
escorado na porta, para reforçá-la. O quarto estava muito escuro,
más, uma luz fraca de vela o iluminou der repente. A fonte da luz
estava atrás de mim. Me virei, para ver quem acendeu a vela.
–Jonas?
–Ele se virou.
–Paulo?
Onde você estava? A madre Elaine, me ligou, e eu vim te procurar.
Você, viu essas coisas ai fora?
–Vi
sim, Jonas.
–O
que elas são? –Ele me perguntou.
–Eu
não sei. Más, nós temos que sair daqui. –Eu afirmei. –Você
está, a qui desde quando? –Interroguei.
–Quando
eu cheguei, a madre Elaine, me disse que você estava a qui em cima.
Eu subi as escadas, porém, uma coisa, começou a me perseguir logo
depois de eu terminar de subir. Eu não soube o que era, porque
estava com muito medo, más, parecia ser uma espécie de sombra
negra, sem traços. No entanto, tinha silhueta humana. Eu corri e
entrei nesse quarto. Estou a qui desde então.
–Quer
dizer que Elaine está a qui? –Eu perguntei surpreso.
–Sim,
ela está. –Ele me respondeu, de forma estranha.
Eu me virei
novamente para a porta. Coloquei meu ouvido, bem perto da madeira e
fiz silêncio para escutar.
–Vamos
esperar as coisas se acalmarem, para nós podermos sair da qui.
Combinado?
Jonas não falou
nada.
–Jonas?
–Eu me virei.
–Combinado
amigo. –Ele respondeu.
Sua voz tinha
mudado, era como se fosse mais de uma pessoa, falando ao mesmo tempo.
Seus olhos estavam cinzentos, como o dos outros e seu nariz sangrava
muito.
–Jonas?
O que aconteceu com você?
–Nada,
meu amigo! –Ele começou a gargalhar. –Eu nunca me senti tão...
Puro. –Mais gargalhadas.
Ele veio até mim,
com uma rapidez, estupenda e segurou meus dois braços, contra a
parede.
–Você
vai gostar de se juntar á nós. –Ele disse gargalhando.
Jonas levantou sua
cabeça, abriu a boca, e dela começaram a sair vários tentáculos,
com aureolas ao redor de cada um deles. Os tentáculos eram grandes,
do tamanho de cobras. Eles balançavam tão violentamente, para lá e
para cá, que lembravam um enxame de vespas. Jonas, abaixou sua
cabeça, virando-a para mim. Os tentáculos, ficaram ainda mais
ativos, e se movimentavam, com mais violência do que antes. Eu
tentei, me soltar, más, não era forte o suficiente.
Ele, se aproximou
de mim. Os tentáculos começaram a tocar meu rosto, dando-me uma
sensação de ardor, na pele, quando, os tentáculos a tocavam. Olhei
para o alto da cabeça do Jonas, e vi uma mão surgir. Alguma coisa,
agarrou o cabelo dele e o puxou para trás. Eu fiquei ainda mais
assustado, quando vi, quem tinha feito isso. Era o garoto que eu
tinha visto no meu quarto, e em meu sonho, no dia anterior. O menino,
usava as mesmas roupas dos outros, e o mesmo uniforme do orfanato.
Suas vísceras, estavam expostas, passando por baixo da camisa. Ele
levantou a mão para mim e eu me virei rápido, para abrir a porta e
fugir.
–Ma...
Mate-o. –O garoto disse, com uma voz, excessivamente rouca.
Eu me virei
novamente para ele.
–Mate-o,
antes que ele se levante. –Ele, mandou.
–O
que? –Eu estava estupefato. –Como...
–Não,
há tempo para respostas. Mate-o.
Jonas começou a se
levantar, lentamente. Olhei para todos os lados, más, não havia
nada que eu pudesse usar para me defender. Olhei para as paredes, e
lá, estava uma cruz, de ferro, pregada na parede ao meu lado. Não
pensei duas vezes, andei até lá, e a peguei.
Jonas,
já estava sentado, pronto para levantar-se. Os tentáculos em sua
boca,
ainda, estavam se movendo muito rápido. Segurei a cruz, com força e
me aproximei dele. Jonas tentou me agarrar, com suas mãos, más,
antes que ele pudesse esboçar alguma reação, eu comecei à
golpeá-lo, na cabeça, com a cruz. Os tentáculos se movimentavam
cada vez mais rápido, más, eu batia, no mesmo ritmo dos seus
movimentos. Eu bati, e bati, com tanta força, que a cruz, esfacelou
a cabeça, dele e ficou, fincada, no crânio do Jonas. Os tentáculos,
pararam de se mover. E ele caiu ao chão.
Fiquei olhando,
atento a alguma reação. O corpo dele, estava banhado em sangue.
Massa encefálica, cobria o alto de sua cabeça e a cruz. Seu corpo
se moveu, assustando-me, más, eram somente espasmos. Ele se debatia,
em quanto os tentáculos se recolhiam vagarosamente para dentro de
sua boca.
–Meu
deus, o que eu fiz? –Sentei-me no chão, chocado.
–Faz
tempo que Deus, não está aqui. –O garoto disse.
–Quem
é você? –Perguntei.
–Eu
me chamo...
–Patrizio
Auditore. –Completei. –Eu sei quem você é. O que está
acontecendo a qui?
–A
fé... Ela transforma, pessoas em monstros. Ela faz eles acreditarem,
que são melhores do que os que não tem fé. Você, é um, pecador,
Paulo, más, também é um homem corajoso, por isso eu vou lhe contar
á verdade. –Ele olhou firme para mim, com a quele olhar negro, e
rosto inexpressivo. –Eu cheguei no orfanato, em 1894, pouco tempo
depois de sua fundação. A madre superiora Maria, me acolheu, quando
eu era somente um bebê. Esse Orfanato, era como todos os outros.
Crianças, brincando, estudando e esperando alguém as adotarem. Más
isso mudou no dia em que a Madre Maria morreu. Depois de sua morte, a
prestativa, irmã Cláudia, assumiu este orfanato. Cláudia, era
severa, más, não demorou muito para nós descobrirmos o motivo de
seu rancor e severidade. A luxúria impregnada em sua pele, e
dominante em sua mente. Um dia uma criança, chegou neste orfanato,
jundo com a Madre Cláudia, que na ocasião, se afastou da qui, por
aproximadamente oito meses, para tratar de problemas de saúde. A
madre Cláudia, nos disse que ela foi encontrada na rua, sozinha e
entre nós, ela cresceu. A ela, foi dado o nome de Elaine. Na época
nós, não sabíamos, más, ela era filha da madre Cláudia. Fruto de
seu romance secreto, com um Necromante chamado Bonaval. Este
necromante, foi o pivô da queda deste orfanato. Ele envenenou a
mente da Madre Cláudia, com ideias de liberdade. A mesma liberdade,
privada pelo cristianismo, e pela sua própria fé. Bonaval,
acreditava, e fez as freiras deste orfanato acreditarem, que a única
maneira de salvar este mundo, era libertá-lo de suas, verdadeiras
correntes. A religião. E mostrar, quem eram os nossos verdadeiros
salvadores. Os demônios. Que segundo Bonaval, foram injustamente
criminalizados, pelos Cristãos. A madre Cláudia, junto com as
outras freiras que acreditavam nos ensinamentos dele, juntaram-se e
formaram uma seita secreta, que cultuava o demônio Abigor, a quem
elas chamavam de “Salvador”. Abigor, é um dos comandantes dos
exércitos de Satanás, a frente de 60 legiões de demônios e um dos
mais forte entre eles. Durante dez dias, a cada dez meses. Crianças
deveriam morrer, e suas almas deveriam ser entregues à Abigor. Para,
assim ele obter força suficiente, para influenciar neste mundo.
Quanto, mais almas em seu poder, mais força Abigor teria. Dessa
forma, os assassinatos começaram. Eles, eram presididos pela madre
Cláudia, junto com a jovem Elaine, que assistia atentamente a tudo.
E era a única de nós, que podia assistir. Os sacrifícios
aconteciam as escondidas, e das mais variadas, formas. Sempre que um
de nós, era morto, as freiras nos diziam que ele tinha sido adotado.
Dessa forma nenhum de nós, desconfiava. Quando meus amigos,
começaram a desaparecer, eu logo desconfiei, já que, elas diziam
que eles tinham sido adotados. Porém, raramente eu via pessoas,
interessadas em adoção por aqui. Um dia eu segui a Madre Cláudia,
pelo corredor do andar de baixo. Sem deixar que ela me visse. O que
eu vi na quele dia, ficou e ficará marcado, na minha memória, para
sempre. Ela levou um pequeno menino de seis anos, chamado Henrique,
para o seu quarto. Eu cheguei logo depois. A porta estava somente
encostada, então eu a abri, um pouco. Quando meus olhos poderão ver
o que ela estava fazendo, eu fiquei congelado de medo e de horror. A
Madre Cláudia, estava cortando o Henrique ainda vivo. A boca dele
estava tampada com uma toalha, introduzida, até sua garganta. Ele
estava despido, e a Madre estava dilacerando suas vísceras, com uma
faca de cozinha. Ele, notou que eu estava lá e olhou direto, para
meus olhos na fresta, como se quisesse pedir ajuda. A Madre Cláudia
notou que Henrique estava olhando para alguém. Ela, virou-se, olhou
para trás, com a queles olhos completamente, negros, e me viu. Eu
corri, como nunca havia corrido, sendo perseguido por ela, até que
entrei neste quarto, depois de despistá-la. Me escondi, dentro da
quele, armário. –Ele apontou, para um velho armário de roupas,
próximo a cama. –E por lá fiquei. A madre Cláudia, avisou a
todas as freiras, sobre o acontecido e mandou que me procurassem.
Como cães, atrás de uma caça, elas me procuraram, por todos os
lados. A Irmã Alice, entrou neste quarto, que era dela, e me
encontrou, quando foi trocar de roupa. Como castigo, ela me agarrou,
tampou minha boca, com uma toalha, introduzida até minha garganta e
amarrou-me, com uma corda, que vinha trazendo. Após me amarrar, ela
tirou uma faca de dentro da gaveta do guarda roupa, e cortou,
profundamente, meu abdome. Por fim, Alice, me trancou neste armário,
para que eu morresse. Eu aguentei dias, até morrer, de sede, fome e
de hemorragia. Depois da minha morte, meu espirito, ficou vagando
neste orfanato, junto com os espíritos das outras crianças mortas.
Quando a Freira Alice, viu que eu já estava morto, ela rapidamente,
cortou, meu corpo em pedaços, com a mesma faca, que me feriu, e se
desfez dos ossos, enterrando-os na orta. A minha carne, serviu de
alimento, para os meus irmãos de orfanato, sem se quer eles saberem.
Durante quarenta anos, a seita da Madre Cláudia, matou crianças,
até que na noite do dia 25 de janeiro de 1943. Ela morreu em sua
cama. Logo depois da sua morte, sua filha, Elaine, assumiu a posição
de Madre superiora. Elaine continuou os sacrifícios humanos, com a
ajuda das freiras, dos empregados do orfanato e do seu mais novo
aliado, o padre alemão Bernhard Schlüter, que foi um dos seus
aliados, mais fieis durante cinquenta e quatro anos.
–Bernhard
Schlüter? –Eu perguntei.
O padre Bernhard,
era um padre Alemão, naturalizado Brasileiro. Ele era alto, magro,
branco, muito branco. Seu rosto, era robusto, como os dos alemães.
Nariz e orelhas grandes, olhar humilde. Bernhard já tinha setenta e
cinco anos de idade, e destes setenta e cinco, sessenta, eram
somente, de sacerdócio. Bernhard, era considerado, um dos padres
mais respeitados do estado, e também, era o padre da igreja que eu
estava restaurando, quando recebi a ligação de Elaine.
–Sim!
Paulo. Durante muito tempo, Bernhard, auxiliou Elaine, como seu
ajudante. Usando seu prestígio, ele enganou, milhares de famílias,
e trouxe seus filhos para cá. Más, o padre já estava cansado, e
profundamente arrependido do que fez. Ele achava que as freiras já
estavam indo longe demais, porém, elas ignoravam seus avisos e
continuavam matando. Em novembro de 1997, Durante uma de suas
viagens, o padre descobriu a lenda dos quadros de Giovanni Bragolin,
através de relatos de seus colegas da igreja. Bernhard, queria, dar
um fim no sofrimento das crianças, e essa era uma forma, de dar fim
a tudo isso, de uma vez por todas. Mesmo não acreditando na lenda, a
sua covardia falou mais alto. Ele decidiu, comprar e dar um desses
quadros de presente as freiras, que o aceitaram sem pestanejar.
Alguns dias depois o orfanato pegou fogo, más, Elaine estava
viajando. Ela estava trabalhando como missionária, e acolhendo mais
crianças para o orfanato, quando foi avisada do acidente. Elaine
desconfiou na hora que o responsável era o padre Bernhard, devido ao
seu comportamento estranho e desmotivação, aos propósitos dela.
Elaine, viajou de volta e foi atrás do padre Bernhard, para matá-lo,
más, em um momento de desespero, ele fez um acordo com ela. Em troca
de sua vida, ele jurou que nunca mais se voltaria contra a seita, e
que atrairia mais pessoas para a causa de Elaine. Assim ela poderia,
dar continuidade ao que sua mãe, havia começado. Elaine aceitou, e
durante anos, o padre novamente, foi seu servo fiel, trazendo várias
pessoas até Elaine. Inclusive você, Paulo! –Olhei para baixo
pensativo. –Como aconteceu com os outros, o mal tomou conta da alma
do padre Bernhard, tornando-o não mais, o padre arrependido de
antes, más, sim um ser dissimulado e cruel. Que fazia-se passar, por
um humilde homem de Deus. Quando na verdade, era um servo do Diabo.
–Más,
como? Como eu pude entrar, e até trabalhar em um orfanato destruído?
–Olhei novamente para o menino.
–Depois
que o orfanato pegou fogo, Elaine, fez um pacto com Abigor, para
trazê-lo de volta. Abigor, já estava tão forte com as almas que o
incêndio, e os sacrifícios lhe deram, que já conseguia, ter uma
leve influência, neste mundo, porém, somente neste orfanato, e
apenas, uma pessoa, que entrasse a qui, de livre e espontânea
vontade e convidado, por Elaine veria o orfanato, como ele era antes.
O orfanato, virou, uma espécie de portal, entre o inferno e a terra,
as criaturas de Satanás, podiam andar livremente por a qui, desse
dia em diante. Más, só poderiam afetar, os que entrassem,
convidados pelo mal em pessoa. Por Elaine. Assim os demônios
poderiam caminhar por aqui, más somente dois deles, podem andar
livremente por este solo, amaldiçoado. Abigor e Moloch. Moloch, era
o Deus dos Amonitas. Deus ao qual, eles ofereciam, suas crianças em
sacrifício, a ele, queimando-as. Moloch, sempre ajudou Abigor, em
tudo, e é seu braço direito aqui. Seu papel, é transferir, as
almas, amaldiçoadas, para fortalecer ainda mais Abigor.
Lembrei-me do
sacrifício da menina, sendo consumida pelo fogo, no dia anterior.
–Então,
como você está falando comigo, em vez de me atacar? porque você,
não é igual a eles? –Perguntei, desconfiado.
–Os
que morrem no sacrifício, tornam-se, almas perversas, eles vagam
por, estes corredores. Mutilados, dilacerados ou queimados. Com a
aparência de espirito, da mesma forma que seu corpo ficou, depois de
morto. Essas almas, carregam, uma fúria imensa, por que sua morte
foi antecipada. Elas, exalam um cheiro podre, tem necessidade, de
alimentar-se de carne. Da carne dos vivos que estão aqui. Esses
espíritos, podem alimentar-se até mesmo da matéria de outros
espíritos. Eu não morri assim, eu vago, como um espirito errante,
minha imagem é essa, por que foi assim que eu fiquei quando me
encontraram. Más, eu não morri em sacrifício. E como todos que
morrem a qui, eu não posso sair. Estou preso aqui para sempre.
Somente os que já tinham o mal em seu coração, ou tiveram contato
com ele. Tornam-se, espíritos sujos. Como é o caso de Aurélia.
–A
cozinheira? –Perguntei.
–Um
de nossos irmãos, chamado Isaac. Chamou a atenção de Aurélia,
pela sua beleza. Ela era sozinha, não tinha ninguém neste mundo.
Sua carência, falou, mais alto que sua razão. Aurélia, começou um
romance secreto, com Isaac, que na ocasião tinha dezesseis anos.
Isaac, não gostava, de Aurélia, más, era ameaçado constante
mente, por ela. Quando ela, descobriu o motivo de Isaac não gostar
dela, Aurélia ficou louca, de ódio. Isaac, era apaixonado por uma
das meninas, que se chamava Isabela. Aurélia ficou enlouquecida, de
ciúmes, e jurou que daria um fim a vida da garota. Para evitar que
seu grande amor, fosse assassinada. Isaac, matou Aurélia primeiro. O
ódio acumulado, depois de tantos anos de abusos, fez para Isaac o
assassinato ser, um escape, para seu ódio. Ele, a matou brutalmente,
com uma faca de trinchar, e foi preso logo em seguida.
–Meu
deus do céu... E o meu amigo... O que aconteceu com ele?
–Pessoas,
que entram aqui, convidadas, e que são tocadas, pelos Nefilins, que
a qui, vagam. Tornam-se, seus servos. Eles não raciocinam como um
humano normal, não estão vivos, nem mortos, e seu corpo material,
fica intacto, porém o se interior, está totalmente modificado. Sua
alma não mais existe e somente o mal preenche seu corpo. Eles
tornam-se, um paralelo, entre humanos, e demônios, e seu único
objetivo é matar. São animais, insanos e enganadores. Não há como
sair vivo daqui. O tempo no orfanato, passa rápido, um único dia no
mundo exterior, equivale, ha quinze dias aqui, se você não for
pego, morre de fome, sem nem mesmo saber.
Logo me veio a mente
a fome, e o cansaço que senti no dia anterior.
–Eu
não posso acreditar nisso. –Levantei-me.
–Sim
Paulo! Aqui nada é o que parece. Você e enganado, tão fácil
mente. –Um sorriso apareceu em seu rosto. –Todos os que morreram
a qui tornaram-se, almas sujas e criaturas cruéis. Com um único
propósito... Matar. Não há como escapar disso.
–Inclusive,
você. Estou certo? –Perguntei.
Ele começou a
gargalhar, e ergueu sua cabeça para cima.
–Está
aprendendo. –Mais gargalhadas.
–Porque
você, me contou tudo? Isso não tem lógica.
–Você
queria saber, da verdade e Elaine me mandou, contá-la a você.
Gostou de saber tudo sobre este lugar? sobre o lugar onde você
passará a eternidade? –Ele perguntou, gargalhando.
Pequenas, pintas
vermelhas, começaram a aparecer em todas as paredes, do quarto.
Fiquei olhando para, elas, assustado, sem saber o que estava
acontecendo. Logo as pintas ficaram maiores e sangue, saiu delas. O
sangue escorria pelas paredes, como um raio descendo do céu,
tingindo-as de vermelho.
–Ele
está qui. –O menino disse.
–Ele
quem? –Perguntei, desesperado.
Um rugido
agonizante, veio do andar de baixo, ecoando pelo corredor, até
chegar aos meus ouvidos. O som parecia com o rugido de um monstro, ou
de uma animal. O menino gargalhou ainda mais alto. Não esperei pela
resposta, da pergunta que fiz. Não importava o que, que estava lá
em baixo, eu tinha que sair dali. Abri a porta, rápido e sai. Olhei
para o corredor a frente. As luzes estavam piscando. O sangue que
escorria das paredes, havia chegado ao chão, formando pequenas
poças, que contrastavam de forma sublime com a madeira marrom.
A menina
contorcida, estava lá, bem no inicio do corredor, olhando para mim.
Eu fiquei parado, esperando alguma reação dela, más, ela só ficou
lá parada, analisando-me. As luzes ainda piscavam, más, ainda
ficavam, um tempo acesas. Olhei para os lados, em busca de alguma
coisa que pudesse usar como arma, quando um som de grito, viajou pelo
corredor. Olhei para a frente. A menina estava vindo rápido ate mim,
como um animal. O meu coração disparou, quando vi a quilo. Não
havia para onde correr. Fiquei esperando ela chegar, para dar logo um
fim nisso tudo. Quando ela parou repentinamente. A menina parecia
assustada, com alguma coisa, ela, virou seu corpo contorcido, olhou
para trás, e correu, de volta por onde veio. A menina saiu do
corredor, e desceu as escadas, muito rápido, deixando somente seu
cheiro podre no ar.
Eu também corri
pelo imenso corredor. Olhei para trás, quando um som chamou minha
atenção. O menino havia saído do quarto, e estava andando pelo
corredor. Olhei novamente para frente, e continuei correndo, até
sair dele. As luzes piscavam. A iluminação, era muito escassa, fora
do corredor e não dava para ver direito. Eu não tinha muito tempo
para pensar. Corri até as escadas, e comecei a descê-las. Gritos
infernais, surgiam de todas as partes. Eram gritos agonizantes,
misturados com gargalhadas histéricas. Alguns gritos vinham do andar
de cima, más, a maioria parecia vir do andar de baixo. Não liguei
para isso, eu só queria sair dali. Continuei descendo até terminar
as escadas. Quando cheguei no andar de baixo, me dirigi à sala do
orfanato, e ao chegar nela, me deparei com uma cena dantesca.
A freira Alice
estava no andar de baixo, exatamente no meio da sala. Ela estava de
joelhos no chão, com um pano branco cobrindo parte de sua cabeça
queimada. Em uma das mãos, ela segurava, um rosário e na outra uma
lâmina de barbear. Andei mais um pouco, para frente, devagar. Eu
queria ver o que estava em baixo dela. Os gritos de pavor aumentaram,
por todo o orfanato e o sangue, continuava descendo pelas paredes, em
forma sinuosa. Me aproximei devagar, até que meus olhos me mostraram
o que estava a baixo da freira. Era uma criança. Uma menina, de mais
ou menos, oito anos, usava um vestidinho rosa, sapatos brancos, com
meias que vinham até os joelhos, da mesma cor. Ela parecia estar
viva, bem diferente das outras crianças que tinham por aqui. A
freira Alice estava em cima dela. Seus joelhos pressionavam os
frágeis braços da menina contra o solo. Seus dedinhos já estavam
roxos, devido a má circulação. E ela não podia gritar, pois sua
boca havia sido costurada, com uma linha preta.
A freira levou a
lâmina ao rosto da menina, que tentava libertar-se, porém, sem
sucesso, e seus gritos anasalados, não eram altos o bastante, para
chamar atenção. Alice, aproximou a lâmina do olho da criança, e
começou a fatiá-lo lentamente. Na tentativa de impedir, aquilo, a
menina fechava seus olhos, más, sua pálpebra era cortada a cada
tentativa. Alice sorria prazerosamente, enquanto fazia aquilo. A
pequena menina debatia seus pés no chão, e tentava gritar devido á
dor, más não saia som de sua boca.
A freira afundou a
navalha, no olho da criança, fazendo um corte, lateral profundo. Em
seguida, ela soltou a navalha no chão, e usando seus dedos, Alice, o
puxou para fora, enfiando três deles, pelos cantos do olho da
criança. Os gritos, agudos e anasalados da menina ficaram mais
altos, expressando sua agonia. Alice pegou novamente a navalha, e
dirigiu-a ao outro olho. Senti alguma coisa se aproximar de mim, na
escuridão. A quela sensação, de ter alguém, atrás de você, me
deu um frio na espinha. Olhei para trás, devagar, e na escuridão,
estavam. Olhos dourados, incandescentes, que se destacavam, no
escuro. Andei para trás, com o susto que tive. Meus passos fizeram,
barulho ao pressionar a madeira do chão, chamado a atenção da
freira Alice, que olhou para trás. E aparentemente, espantada,
levantou-se ao me ver. A criança, continuou ao chão, tentando
gritar, más, seus gritos de horror, eram suprimidos, pela costura em
sua boca. Fiquei olhando para o escuro, para os olhos dourados, que
lá se destacavam. Minha visão, periférica, mostrava Alice, em pé,
com a lâmina em sua mão, más a imagem dela não era nítida o
bastante. Á baixo dos olhos, amarelos, eu pude ver, um pé saindo da
escuridão, sendo iluminado pela luz da lua, e em seguida, o resto do
corpo, também saiu do escuro.
–Elaine?
–Eu disse, quase desmaiando de medo.
–Olá!
Paulo. Como anda a restauração. –Ela perguntou, ironicamente.
–O
que? Você está louca? Eu vou te matar a gora. –Afirmei, furioso.
Elaine começou a
rir
–Você
vai me matar? Assim, como fazia quando era criança? Quando matava,
animais indefesos na rua, para impressionar seus amigos? Aqui, não
tem ninguém para impressionar. –Ela veio até mim, com uma
velocidade sobre-humana. –Aqui, eu mando. –Elaine falou, com uma
voz diferente, extremamente, grave. –Alice, pegue-o. –Ela,
ordenou, ao mesmo tempo que me soltava.
A freira Alice veio
até mim, com a lâmina, em sua mão, esquerda. Olhei para Elaine e
ela sorriu para mim, em seguida, me empurrou, com uma força
descomunal, contra a parede próximo, a porta do orfanato. Meu corpo,
bateu com força, na parede, fazendo, um som oco. Minha visão, ficou
turva, um som de zumbido tomou conta dos meus ouvidos. Os sons dos
gritos, vindos de todos os lugares do orfanato, se misturaram, em
minha cabeça, e meu corpo doía, por inteiro. Passei, a mão em meus
olhos, para tentar recompor minha visão, olhei para frente e apenas
vi, duas sombras negras, sem definição. Tentei me levantar. Eu
sabia, que Alice estava próximo de mim. Más, estava errado, ela já
havia chegado. Alice, me pegou, pelos braços, empurrou-me no chão,
segurou em meus cabelos e com um movimento rápido, fez um corte em
minha testa. A dor do corte, fez meu cérebro acordar, olhei para
cima. A freira, estava, levantando-se, e ficando de pé, acima de
mim. Ergui meu tronco, e a empurrei, fazendo, ela cair sentada no
chão. Era a minha chance, terminei de me levantar, e corri até a
porta, sendo observado por Elaine, e Alice.
A porta estava
trancada. Comecei a esmurrá-la, com força, a força dada pelo
desespero. Alice se levantou. Elaine, começou á andar ate mim.
Olhei para trás, ao escutar os sons dos passos. Me encostei na
porta, assustado, quando vi que, todas as crianças, do orfanato,
estavam lá, na escuridão, olhando para mim. Eu podia, ver seus
rostos, pálidos, contrastando, com o escuro, seus olhos negros e
vazios, me traziam, uma tristeza que contaminava, minha alma. Mais
sons surgiram. As outras freiras, desciam as escadas em fila, usando
hábitos, sujos de sangue. O padre Bernhard, surgiu, logo atrás, de
Elaine. Todos eles estavam lá, me observando. Os gritos pararam,
somente ouvia-se, a pequena menina agonizando, no chão.
Me virei novamente,
para fazer minha ultima tentativa, desesperada, de abrir a porta. Eu
a puxei com todas as minhas forças. E cai ao chão, quando ela
abriu. Fiquei espantado, pois a porta parecia já estar aberta,
quando a puxei, más, eu não tinha tempo para pensar em nada. Me
levantei, e corri, para fora do orfanato. Parti em disparada, até o
portão. Ele estava fechado. O sangue, nas paredes, impossibilitavam,
que eu as escalasse, pois estavam muito escorregadias. Escutei
novamente, um som atrás, de mim. Olhei para trás, rápido. Todos os
pelos do meu corpo, se arrepiaram. As crianças do orfanato, todas as
freiras, Elaine, Alice e o padre Bernhard. Estavam lá, atrás de
mim, novamente, me olhando. Meu coração, disparou e suor frio,
produzido pelo medo, desceu em meu rosto. Alguns deles começaram a
sair de seus lugares, dando passagem a alguma coisa.
Escutei um
murmurinho, vindo do lado de fora do orfanato, eu me virei novamente,
para o portão. Um grupo de três, jovens estavam passando na rua.
–Ei...
Eiiiii... –Eu gritei. –Socorro, socorro.
–Eles
não podem te escutar. –Uma voz, vindo das minhas costas disse.
Novamente, virei-me
rápido. Eram o Bombeiro, e o Policial.
–...
Vo... Vo... Vocês? –As palavras, quase não saiam.
Eu fiquei tão
aliviado aos ver.
–Me
ajudem por favor. –Implorei.
Eles se olharam.
–Você,
não pode sair daqui, Paulo. –O policial afirmou, com uma voz
estridente.
–O
que? Mais como eu não posso sair?
A voz do menino
dizendo: “Aqui nada é o que parece”. Reverberou, em minha mente.
–Quem
são vocês?
Policial,
e Bombeiro, começaram a rir.
–Eu
sou Abigor, um dos sete generais do inferno e senhor deste orfanato.
–Disse o Policial.
–Eu
sou Moloch, o antigo Deus dos Amonitas. –O Bombeiro disse sorrindo.
–Você,
é enganado tão facilmente, Paulo!
Meus ouvidos,
começaram a zumbir de medo. As mesmas pessoas, que foram os anjos
salvadores no dia anterior, não eram nada do que imaginei. Eu havia
caído em uma armadilha. Dirigi, meu corpo ao portão e segurei, na
grade. No momento, em que minhas mãos, tocaram, o aço, minha pele
ardeu, como, se estivesse em chamas, fazendo-me tirar rapidamente
minhas mãos dali.
–Você,
já foi marcado. –O Bombeiro disse.
Olhei para a ferida,
em meu braço, e lembrei-me, da mordida, que a menina contorcida, me
deu.
–Você,
já é nosso...
O policial, se
aproximou, e colocou, sua mão, em minha cabeça. No momento em que
sua mão tocou minha cabeça, meu corpo, ficou anestesiado.
–A
partir de hoje, você, nos serve. Você, Paulo, usará, sua
habilidade, de escrever, para trazer novas almas até mim. Abigor.
–Sentia-se o orgulho, dele ao pronunciar, esse nome.
Ele me soltou, e eu
cai de joelhos, no chão. Meu corpo parecia, pesar, uma tonelada.
Tentei, me levantar, más, alguma coisa tomou conta de mim. Era como
se algo, estivesse, subindo, pelos meus pés, até chegar na minha
cabeça. Meus olhos ficaram negros, e nossa como eles ardiam. Minha
vontade de fugir, era irrelevante. Eu não tinha mais querer. Eu
tinha que obedecer. Essa era a única coisa que se passava em minha
cabeça agora.
–Escreva
sobre o que viu aqui. –Ele ordenou –A partir de Hoje, você me
trará mais almas, Paulo. Eu não lhe trouxe aqui, sem motivo. Você,
escreverá, sobre o que viu aqui, sobre mim, sobre minhas crianças,
sobre, minha casa e sobre tudo, que seus olhos lhe mostraram. Todos
os que lerem, sua estória, estarão, com as almas condenadas ao
inferno, todos que souberem, do orfanato se tornarão, minhas
crianças e no momento de suas mortes, eu Abigor, estarei lá.
Epílogo:
Eu
fiz o que me foi ordenado, eu escrevi minha estória, marcada, com
sangue de inocentes. Desde o dia, em que terminei de escrevê-la.
Todos os que a leram, tiveram suas almas, condenas, sem nem ao menos
saber, inclusive você, que está lendo agora. Não se assuste, caso,
algo desse tipo aconteça, com sua pessoa, não se assuste, caso
tenha o mesmo fim que eu. Não existe, mais salvação. Ninguém pode
ajudá-los, agora.
FIM
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